Introdução à Colecção Dois Mundos - Livros do Brasil
(Páginas VII e VII do primeiro título, onde se faz a apresentação da Colecção Dois Mundos)

As sobrecargas crescentes de importação do livro brasileiro no nosso país, onerando-o e tornando a sua aquisição pouco acessível ao nosso público, dificultam extremamente o conhecimento em Portugal de algumas obras-primas da literatura mundial contemporânea, cujos direitos de tradução para a língua portuguesa foram vendidos às grandes casas editoras no Brasil. 
A firma "Livros do Brasil" encarou mais de uma vez o problema no sentido de o resolver satisfatoriamente , a contento do público de Portugal, que, dadas as diferenças do custo, não poderia adquirir todas as obras publicadas pelos editores brasileiros e que, doutro modo, perderia o ensejo de conhecer na sua língua os livros mais representativos do nosso tempo.
A colecção "Dois Mundos", que se inicia com o presente volume, é o primeiro fruto das tentativas que se puseram em  prática no intuito de chegar a acordo comercial com as grandes casas editoras do Brasil, no sentido de serem publicadas em Portugal essas grandes obras literárias. Com a presente colecção, esta firma editora esforça-se por cumprir a obra cultural que se impôs, correspondendo assim ao acolhimento que em Portugal as suas edições têm merecido.
Ao "Livro de San Michele", essa obra incontornável, seguir-se-ão "As Vinhas da Ira", de Steinbeck, e outros volumes de igual categoria, em edições cuidadas e novas traduções, com capas do artista inconfundível que é Bernardo Marques, num conjunto devidamente seleccionado e escolhido em ordem à preferência do público português, cujo nível e anseio de cultura bem merecem o pesado encargo que estas edições comportam.

Nota: além das capas, transcrever-se-ão as sinopses relativas aos livros. As obras irão sendo acrescentadas à medida que foram sendo conseguidas. O objectivo do blog é efectuar o registo deste património literário que fez parte da vida de muitas gerações, dando a conhecer os livros da colecção.

1 - O Livro de San Michele


Título original: "Boken Om San Michele" (1929)
Autor: Axel Munthe (1857-1949)
Tradução: Jaime Cortesão
Capa: Bernardo Marques
Livros do Brasil - Lisboa (s/data publicação)

"O Livro de San Michele", primeiro volume da "Colecção Dois Mundos", é, como diz o seu autor, "o livro da vida". Da vida que transforma o mundo, da vida que não descansa, que não se imobiliza nunca, mas que, se acaso apresenta a cada passo novos aspectos, fisionomia nova, nova aparência, é sempre e essencialmente a mesma.
Axel Munthe, que o não ignora, sabe também que só o humor da humanidade, que só o humaníssimo amor do próximo - gente ou bicho, adulto ou criança, pessoa ou animal - nos redime e salva dos inevitáveis egoísmos. É um mestre de generosidade, um professor de ternura, uma energia ao serviço da mais límpida, da mais elevada, da mais devotada fraternidade humana. Ele quer os homens sãos e crentes, a infância pura e alegre, a adolescência entusiástica e a velhice piedosa e serena. Chamar a Axel Munthe só um grande escritor idealista - é pouco, porque ele é muito mais ainda: é um raro exemplar de Homem superior, de Homem completo, vencedor sempre das mesquinharias e dos egoísmos da existência.
Lê-lo e meditá-lo é aprender e viver. Nenhum livro como este poderia abrir melhor a "Colecção Dois Mundos", porque em nenhum outro vibra tanto, e se afirma tanto, a simpatia da alma que aproxima e enleia indivíduos, pátrias, continentes e povos.

2 - As Vinhas da Ira


Título original: "The Grapes of Wrath" (1939)
Autor: John Steinbeck (1902-1968)
Tradução: Virgínia Mota
Capa: Bernardo Marques
Livros do Brasil - Lisboa (s/data publicação)
 
Eis aqui um dos grandes romances de John Steinbeck, o mais discutido, o mais lido, e talvez o mais célebre escritor norte-americano do nosso tempo. A celeuma que este livro provocou nos Estados Unidos não impediu que lhe concedessem o mais importante prémio literário que existe nesse país: o Prémio Pulitzer. De que trata a obra famosa? Do êxodo de uma família de lavradores que, vendo-se reduzidos à miséria por uma tempestade de areia em Oklahoma, resolve emigrar para a Califórnia. A luta que todos os membros da família sustentam na sua exaustiva jornada contra os elementos e os homens e, até, contra o próprio meio de transporte, a coragem de que dão provas, a generosidade de alma que afirmam, a humaníssima  capacidade de, apesar de tudo, fraternizarem uns com os outros e com os seus semelhantes trazem um sopro de epopeia raro, mesmo hoje, em livros de idêntica ou parecida inspiração. O fundo, a tendência social de "As Vinhas da Ira", a piedade pelo sofrimento alheio, e o protesto, a revolta perante as injustiças do mundo, que assinalam o romance de Steinbeck, conferem-lhe uma nobreza inequívoca.
Portugal, que mal conhece este autor e que precisa de lê-lo e conhecê-lo melhor, decerto apreciará e festejará a obra-prima deste romancista de excepcional grandeza.

3 - Gog


Título original: "Gog" (1929)
Autor: Giovanni Papini (1881-1956)
Tradução: Sousa Júnior
Capa: Bernardo Marques
Livros do Brasil - Lisboa (1954?)

A "Colecção Dois Mundos" revela com este volume um dos escritores mais discutidos do nosso tempo: Giovanni Papini. 
A crítica de todo o mundo considerou "Gog" como a obra mais arrojada de Papini, cuja carreira literária parece ter sido realizada também, não por um, mas por dois escritores.
Giovanni Papini, pode afirmar-se, que não conhece um termo médio. O seu comportamento é radical, para combater e para criar. Dá-nos uma impressionante sensação de audácia intelectual, e neste seu livro, melhor que em qualquer outro, o verificamos.
"Gog", nome que Papini foi buscar ao Apocalipse, é uma personagem encontrada num manicómio particular: "a sua fala era singularíssima, passava de um assunto paradoxal, mas inteligente, para declarações de uma vulgaridade mais do que plebeia".
Entre os muitos interlocutores de "Gog", encontra-se H. G. Wells, Bernard Shaw, Edison e Einstein. Todo o mundo moderno é examinado por "Gog", essa personagem fantástica que encobre umqa alma diabólica e o sentimento cruel do primitivo.
Foi este extraordinário tema que trouxe ao livro apresentado agora na nossa colecção, uma auréola de assunto sensacional, pela tumultuosa e constantemente mordaz crítica que encerra.
O público tem agora oportunidade de conhecer e apreciar uma obra de Papini onde tudo é original, predominando da primeira à última página uma fina e implacável ironia, que fez deste livro uma sátira à civilização agora posta em cheque com a última guerra.

4 - Madame Curie


Título original: "Madame Curie" (1937)
Autor: Ève Curie (1904-2007)
Tradução: Monteiro Lobato
Capa: Bernardo Marques
Livros do Brasil - Lisboa (s/data publicação)

"Uma jovem mulher casada cuida do lar, trata da sua filhinha, cozinha as refeições da família... e no pobre laboratório da Escola de Física, uma sábia faz a mais importante descoberta da ciência moderna."
´Maria Sklodowska Curie, um nome venerado pelos sábios e pelo povo - a sua vida constitui o mais cativante e extraordinário romance.
A pequena Ève Curie, filha do casal Pierre e Marie Curie, tornou-se uma das mais consagradas escritoras da actualidade. É ela que nos dá esta obra notável sobre a grande detentora dos Prémios Nobel, não se limitando a fazer uma simples biografia, mas dando em toda a sua grandeza e simplicidade, o romance verdadeiro de uma mulher que lutou, sofreu e acabou por vencer a luta enorme em que se embrenhara.
Marie Curie! Um nome sempre repetido por aqueles que na obscuridade dos laboratórios, na luta apagada contra o cancro, nas Universidades e Institutos, se dedicam de corpo e alma à Ciência. Para esses, Marie Curie é um símbolo, na dura batalha em prol do Progresso e do bem estar da Humanidade.
Esta obra trazida hoje ao público português por esta Colecção, bem pode considerar-se como o documento único sobra a grande cientista que revelou ao mundo uma das suas maiores riquezas - o rádio.
São os dois importantes aspectos da sua vida - como mulher e como sábia - a revelação das páginas apaixonantes deste livro, que para todas as mulheres deve constituir uma verdadeira bíblia.

5 - Homens e Bichos


Título original: "Memories and Vagariés" (1898)
Autor: Axel Munthe (1857-1949)
Tradução: António Sérgio
Capa: Bernardo Marques
Livros do Brasil - Lisboa (s/data publicação)

"Neste volume, composto de artigos dispersos e já esquecidos, encontram os leitores do Livro de San Michele muitos dos seus antigos conhecimentos, e com as mesmas andrajosas roupas, por isso que não tinham outras. O meu amigo Arcandelo Fusco, varredor do bairro de Montparnasse; a família Salvatore; Don Gaetano, o tocador do realejo, mais a sua macaquinha a tiritar de frio; Monsieur Alfredo, trazendo debaixo do braço o manuscrito da sua última tragédia, todos eles aparecem aqui. A própria Irmã Filomena, suave anjo da guarda da Salle Sainte Claire do  Hospital de Paris, vive e morre nestas últimas páginas." 
Desta forma, o volume "Homens e Bichos" completa maravilhosamente esse estranho "Livro de San Michele", que apaixona, o o seu estilo inconfundível os leitores, da primeira à última linha. Nas páginas do livro que António Sérgio tão brilhantemente traduziu para o nosso idioma, palpita o mesmo pitoresco mundo de figuras que Axel Munthe focou do natural, e imortalizou.
Como o autor diz no prefácio, as narrativas que constituem este volume foram escritas em diferentes épocas e publicadas em jornais e revistas. São, por isso, anteriores ao "Livro de San Michele", e reflectem fases da vida do famoso médico. Documentam maravilhosamente, por isso mesmo, muitas das reacções que, mais tarde, convertidas em recordações melancolizadas pelo tempo e pela saudade, originaram as suaves e humaníssimas páginas daquele volume.

6 - Arco do Triunfo (Erich Maria Remarque)


7 - História de Cristo (Giovanni Papini)


8 - Servidão Humana (W. Somerset Maughan)


9 - Palavras e Sangue (Giovanni Papini)


10 - Geração Perdida


Título original: "Antic Hay" (1923)
Autor: Aldous Huxley (1894-1963)
Tradução: Moacyr Werneck de Castro
Capa: Bernardo Marques
Livros do Brasil - Lisboa (s/data publicação)
 
O supremo negativismo da época que sucedeu à primeira Grande Guerra é retratado neste livro, com a agudeza que caracteriza o alto espírito do seu autor. Esse período sombrio que, por fatalidade histórica, parece repetir-se agora, talvez agravado pelas circunstâncias, mereceu do grande escritor inglês a condenação que estas páginas exprimem. "Geração Perdida", feno (hay) molhado, apodrecido, inutilizado. Criaturas que, como Gumbril Júnior, "se interessam por todas as coisas" - o que é a forma de por nada se interessarem, como ironicamente comenta o pai da personagem central deste volume. 
Olhando as ruínas do após-guerra - ruínas morais, bem mais tristes do que as das cidades arrasadas - Huxley sentiu-se possuído de raiva destruidora, numa necessidade de expandir o seu ódio e desprezo por esses entes vazios de de ideal, que se agitavam numa epiléptica fúria de viver. E a sua revolta produziu este livro demolidor - porque as ruínas precisavam de ser demolidas para que surgisse alguma coisa que "valesse a pena". Remover o feno apodrecido, fertilizar o solo tornado sáfaro, para que de novo as colheitas fossem aproveitáveis. Sem se deixar iludir pelas aparências de uma sociedade falsamente requintada, falsamente artista e até falsamente incrédula, preconizou com coragem a extirpação dos não-valores. Audacioso até à temeridade, lançou este livro negativista - mas também, e apesar de tudo - salutarmente construtivo.
A Colecção Dois Mundos enriquece-se com este volume notável sob todos os aspectos.

11 - O Dr. Arrowsmith


Título original: "Arrowsmith" (1925)
Autor: Sinclair Lewis (1885-1961)
Tradução: Juvenal Jacinto
Capa: Bernardo Marques
Livros do Brasil - Lisboa (s/data publicação)

Eis o livro de um americano sincero que se propõe explicar ao Mundo que nem tudo quanto reluz na famosa civilização norte-americana é ouro.
Pela boca do seu herói, um médico apaixonado pela microbiologia, Sinclair Lewis proclama a "lealdade de discordar, a fé na dúvida, o evangelho de não apregoar evangelhos, a sabedoria de confessar a sua ignorância provável e a alheia".
Grande parte da acção deste livro decorre em laboratórios de investigação científica, mantidos por instituições, ao gosto tão característico dos americanos. Mas, em vez de exaltar as maravilhas dessas organizações, de belo aspecto exterior, o romancista analisa-lhes as falhas, o comercialismo que deforma os mais nobres ideais, a improvisação visando falsos êxitos. Os Estados Unidos são apresentados aos norte-americanos com uma agudeza que lhes provocou cólera, riso e vergonha. 
Mas o livro é também, a par do estudo desapiedado dos defeitos da civilização tão apregoada como a melhor, uma prodigiosa galeria de tipos: Gottlieb, o cientista puro, austero e excêntrico; Sondelius, romântico e contraditório; Pickerbaugh, o homem das organizações, oco e palavroso; e, enchendo todas as páginas, essa estranha Leora, a mulher camarada, a esposa perfeita - a mais humana, a mais bela figura de mulher de toda a vasta obra do autor.

12 - O Fio da Navalha (W. Somerset Maughan)


13 - Os Buddenbrook



14 - Miguel-Ângelo na Vida do seu Tempo (Giovanni Pappini)